11 dos 15 assassinatos no primeiro trimestre de 2023 tiveram relação com o tráfico de drogas em Santa Maria

Maurício Barbosa

11 dos 15 assassinatos no primeiro trimestre de 2023 tiveram relação com o tráfico de drogas em Santa Maria
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) encontrou um corpo carbonizado e com as mãos amarradas, na BR-287, em Santa Maria. A PRF isolou parte da pista, aproximadamente a 500 metros da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Foto: PRF (Divulgação)

As autoridades da segurança pública afirmam que a principal motivação para os assassinatos e a crescente onda de crimes contra a vida nos últimos anos, em Santa Maria, é o tráfico de drogas. Neste ano, isso está ficando cada vez mais claro. Dos 15 homicídios registrados no primeiro trimestre, pelo menos 11 – 73% – tiveram como motivação o tráfico de entorpecentes. Outros dois foram causados por rixas, um desentendimento e um caso ainda sem motivação esclarecida. Dez crimes já tiveram a autoria apontada.

Após bater o recorde de homicídios em 2022, a pergunta que fica é: quantas pessoas ainda irão morrer nessa guerra do tráfico que vem vitimando cada vez mais pessoas desde 2013, quando as facções começaram a chegar em Santa Maria.

Neste momento, a polícia trabalha na análise dos indicadores estatísticos dos crimes violentos. No caso dos 15 homicídios do primeiro trimestre, houve redução de 25% em relação aos 20 crimes contra a vida registrados em igual período do ano passado, que foi o ano mais violento da história de Santa Maria, com 70 assassinatos – mesmo número de mortes de 2017.

– Esse dado é bastante expressivo e já começa a ser um resultado animador em virtude do elevado número de homicídios que tivemos em 2022, que foi o pior ano da série histórica. Nosso trabalho neste ano é o mesmo do ano passado, ou seja, trabalhamos fortemente para a elucidação os crimes. Se olharmos a elucidação, verificamos que desses 15 homicídios, 66,6% já têm a autoria definida. São 10 fatos devidamente esclarecidos e outros cinco em investigação – afirma Meinerz.

Os tiros na cabeça ou em grande quantidade são formas de mostrar poder e colocar medo nos inimigos na competição pelo território do tráfico. Essas características ficam claras nas investigações. Meinerz afirma que os envolvidos são membros de facções criminosas organizadas que disputam o espaço no comércio de drogas na cidade. Desentendimentos no submundo do tráfico em geral são resolvidos com a eliminação do oponente.

– Infelizmente, o tráfico é o crime que é a mola propulsora de vários indicadores de criminalidade. Não só dos homicídios e das tentativas de homicídio, mas também dos roubos, dos furtos, inclusive de fios, de arrombamentos de residência, estabelecimentos comerciais e veículos – aponta o delegado regional.

Além do combate aos crimes, a polícia também investe pesadamente contra o tráfico de drogas. Conforme Meinerz, é fundamental tirar de circulação indivíduos que traficam, coibir o avanço e diminuir o poder das facções criminosas.

– Ao desmantelar um grupo de criminosos que pratica o tráfico, enfraquecemos o crime organizado e, consequentemente, podemos mexer nessas estruturas do crime, dando uma melhor resposta para população – esclarece.

O delegado Marcelo Mendes Arigony, titular da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), concorda que, de fato, a droga é a mola propulsora da criminalidade, funcionando como combustível pra que esses grupos criminosos se organizem e continuem funcionando. Por outro lado, os índices de elucidação dos crimes são grandes, e isso funciona como elemento preventivo, porque mostra que o estado policial consegue dar uma resposta a essa violência.

As tentativas de homicídio também são números analisados pela polícia. Após o registro de 40 em 2021, a estatística teve aumento de quatro crimes no trimestre no ano passado. Já neste ano, o número de crimes caiu de 44 para 38. Todos os casos estão sendo investigados.

Dos 38 crimes em que as vítimas sobreviveram, 14 foram cometidos em março e, os outros 24, no primeiro bimestre.

– É uma redução de mais de 30%. Também é expressivo e nesse indicador o nossos índices de elucidação estão muito parecidos. O importante nesse dado dos crimes violentos letais intencionais é a quantidade de fatos elucidados e com a resposta dada à sociedade no sentido de prisão dos autores para viabilizar a futura contabilização na elucidação – afirma o delegado regional de Santa Maria, Sandro Meinerz.

Facções têm elevado a crueldade dos crimes e deixa suas “marcas”

Nos crimes de 2023, uma característica vem ficando evidente: a violência nas execuções. Sejam elas por serem com tiros na cabeça ou pela quantidade de disparos. Em apenas duas ocorrências, peritos do Instituto-Geral de Perícias recolheram e apreenderam ao menos 80 cápsulas deflagradas para executar as vítimas.

O delegado de Homicídios, Marcelo Arigony, destaca que a violência é a forma usada pelos criminosos para conseguir o que querem e uma característica das facções.

– Esses crimes ocorrem num contexto de vingança, de tomada de espaço, de poder dentro do seu próprio grupo ou perante os grupos criminosos rivais. Os indivíduos que os praticam, sejam como executores ou como mandantes, precisam demonstrar essa violência extrema para que eles consigam ir além do homicídio. O que eles desejam é o ganho de poder – diz o delegado.O mês de abril já registra quatro execuções em 13 dias. Em todas, os assassinos deixaram a violência registrada. No crime “mais brando”, a vítima morreu com quatro tiros.

Na noite de 1º de abril, Rodrigo Barros de Sousa, 40 anos, e Daiana Cristina da Silva, 34, foram executados com mais de 50 tiros, na casa em que moravam, no Bairro Divina Providência. No início da madrugada do dia 5, Tiago Cardoso Gomes, 30 anos, foi morto com mais de 20 tiros dentro de casa, no Bairro Nova Santa Marta.

Na madrugada desta quinta-feira (13), Ivanir de Souza Rodrigues, 65 anos, foi morta com quatro tiros, sendo dois na cabeça. O crime aconteceu na Rua 1, no local conhecido como Beco da Babilônia, na invasão da Vila Oliveira, no Bairro Passo D’Areia. Dois dias antes, um filho de Ivanir havia sido baleado no braço, no mesmo endereço.

Já nos meses anteriores, três vítimas foram assassinadas com 10 tiros, uma com sete e outra com cinco disparos. Apenas em um dos casos o crime foi praticado com faca.

As vítimas da violência neste ano:

Janeiro

1 Ângelo da Silva, 43 anos – 10 tiros

2 Cleberson Guilherme Carvalho Ferreira, 16 anos – 2 tiros

3 Yuri Vargas da Silva, 24 anos – Facada

4 Corpo carbonizado, ainda sem identificação

Fevereiro

5 Marcelo Quevedo de Paula, 32 anos – 2 tiros (cabeça e barriga)

6 Neimar da Silva Trindade, 36 anos – 5 tiros

7 Henrique da Cunha Borowsky, 37 anos – 1 tiro na cabeça

Março

8 Daniel Silveira dos Santos, 21 anos – 1 tiro no peito

9 André Fernando Trindade Alves, 41 anos – 2 tiros (perna e peito)

10 Maurício Courtois Marques, 31 anos – 10 tiros

11 Jean Cristofer Carvalho dos Santos, 22 anos – 3 tiros (cabeça e peito)

12 Ester Gonçalves dos Santos, 22 anos – 1 tiro na cabeça

13 Anderson Santos dos Santos, 32 anos – 10 tiros (costas e cabeça)

14 Valdenir Machado Moraes, 55 anos – tiros e facadas

15 Leonardo dos Santos Padilha, 19 anos – 10 tiros, 7 na vítima

Violência em alta

Os assassinatos em Santa Maria:

2022

Janeiro: 4

Fevereiro: 8

Março: 8

Total do trimestre: 19

2023

Janeiro: 4

Fevereiro: 3

Março: 8

Total do trimestre: 15

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